top of page

BLOG / VÍDEOS

Pesquisa . Produção . Difusão

 A RESPONSABILIDADE DE QUEM PROPÕE CONTAR HISTÓRIAS NA REALIDADE CONTEMPORÂNEA

Observação: A gravura e a tipografia nascem com o propósito de expandir o número de pessoas que têm acesso a uma imagem ou história (informação).
Observação 2: Hoje vivemos em uma cultura denominada cultura dos meios de comunicação de massa.
Observação 3: o autor deste texto tem suas pesquisas direcionadas a partir do desenvolvimento do pensamento gráfico.

Quando falamos do estudo dos meios de comunicação de massa, é possível que venha logo à cabeça o clássico livro “O meio são as massa-gens” e atrelado ao livro, os pensamentos de seu autor Marshall Macluhan. Porém, quando analisamos esta mesma obra no ponto de vista do design e editoriação, o nome que de imediato ocupa nosso pensamento, é o do coautor da obra Quentin Fiore.

É a partir do trabalho de Fiori que se inicia o presente ensaio:

As soluções (ou problemáticas) gráficas apresentados no livro “O meio são as massa-gens”,  um exemplar de refinado e complexo projeto gráfico, nos leva a um incrível universo de desdobramentos, no qual, encontramos diversas formas de se ler e interpretar as mensagens contidas nele.

Quando nos deparamos com peças como a citada acima, que se expandem diante de nossos olhos nos levando a diversas leituras e ampliação de nosso repertório e senso critico, a afirmação do poeta português Fernando Pessoa, “que devemos ser plurais como o universo”, ganha o peso de uma tonelada de penas flutuando sobre nossas mentes curiosas para tocá-las  e desvendar a origem de cada uma delas.

O Artista e Professor Evandro Carlos Jardim, costuma referir-se à uma matriz de gravura, como o ponto de partida para muitas interpretações de uma imagem, portanto, é possível crer que o ato de criar uma matriz para gravura, trata-se  de um universo inesgotável de criação de imagens através de estampas, algo como uma frase sem ponto final...

Tal ponto final entrou em desuso por conta da comunicação instantânea e efêmera mantida nos meios digitais como redes sociais e messengers. As mensagens aparecem e desaparecem de forma continua e rápida, ao ponto de não percebermos mais seu inicio e fim. Trata-se de muitas mensagens com diversas interpretações sendo emitidas ao mesmo tempo em todas as direções. Porém muito antes do advento da internet, este ponto finalizador de ideias perdeu seu sentido no momento em que  René Magritte afirmou: “Ceci n’est pas une pipe.”

A partir de então, o mundo real caiu, as certezas absolutas deixaram de existir e a complexidade tomou conta de nossas vidas junto com os meios de comunicação. E agora o que será de nós, para onde vão nossos diálogos, que rumo tomará nossas relações pessoais?


E agora que as penas do inicio deste texto se multiplicaram em volume e mesmo assim insistem em se rebelar diante da gravidade?

E se ainda estamos perdidos entre a gravidade e penas, podemos retornar aos tempos de mocidade e reler livros como “Onde vivem os monstros” de Mauricie Sendak, autor que ultrapassou  o olhar simples e ingênuo e conseguiu enxergar quantos universos existem dentro do sonho de um menino, ou mesmo nas margens de um livro ilustrado.

A pós-modernidade e a primeira década dos anos dois mil, foram marcadas por um evidente declínio de pensamentos e conceitos socioeconômicos que visaram o acúmulo de posses como principal recurso de sobrevivência. Por conta desta queda de conceitos é bem possível que a partir de agora, na natividade da Cultura do Capitalismo Liberal, consigamos observar de forma mais clara os monstros que habitam as terras reinadas por Max, ou mesmo as tantas imagens contidas em uma matriz de gravura. Pois em cada um desses monstros ou imagens, podem estar os caminhos que devemos seguir no momento em que o horizonte ainda se apresenta desfocado por conta do enorme número de penas que se debatem contra nosso corpo, com pontas afiadas cortando nossa pele.  A partir de então, o ato de gravar uma tábua de madeira para criar uma imagem, torna-se o princípio de uma história.

Histórias contadas através da abertura de luz no negro chuviscado de uma matriz xilográfica, ou mesmo pela retirada de matéria em etapas para a composição de uma estampa cromática na técnica da matriz perdida. Cada Layer é uma História!

A técnica da matriz perdida trilhou novos rumos narrativos nas madeiras de Luise Weiss ou no desgaste da tinta empregada na produção gráfica assinada por Andy Warhol. Processos que contam histórias deixando vestígios que se dissolvem no ar através da trajetória de partículas e fragmentos de cada pessoa que se permite enxergar aquilo que a princípio não se encontra diante dos olhos. É assim que os Orientais definem o termo Wabi-Sabi, expressão cunhada de diversos significados e que mantém relação bastante íntima com a beleza da narrativa e o passar do tempo e de nossas vidas.

Pensar na vida como processo narrativo (seja ele linear ou não), é o mesmo que conduzir o diálogo entre a matéria, o processo e as mãos, na criação de histórias que darão origem a mais de uma tonelada de narrativas que flutuarão no ar com suas pontas afiadas, prontas para fincar-se nas mãos de outros contadores de histórias.

Esta é a responsabilidade de todo aquele que deseja criar e contar histórias. Trata-se de estimular o crescimento de novas ideias e multiplicar formas de se narrar e ler a vida.


Bruno Oliveira (Inverno de 2017)

blog / vídeos: Turmas
bottom of page